sexta-feira, 19 de julho de 2013

Manuel Castells: ‘O povo não vai se cansar de protestar’

- Sociólogo afirma que ausência de líderes é uma das qualidades dos protestos no Brasil e diz que país vai influenciar países vizinhos


Na rua está “a sociedade em sua diversidade”, diz Castells
Foto: Luiz Munhoz/FatoPress/Folhapress/10-6-2013

Para o sociólogo catalão Manuel Castells, boa parte dos políticos é de “burocratas preguiçosos”. Ele é um dos pensadores mais influentes do mundo, com suas análises sobre os efeitos da tecnologia na economia, na cultura e, principalmente, no ativismo. Conhecido por sua língua afiada, o espanhol falou ao GLOBO por e-mail sobre os protestos.

Os protestos no Brasil não tinham líderes. Isso é uma qualidade ou um defeito?

Claro que é uma qualidade. Não há cabeças para serem cortadas. Assim, as redes se espalham e alcançam novos espaços na internet e nas ruas. Não se trata, apenas, de redes na internet, mas redes presenciais.

Como conseguir interlocução com as instituições sem líderes?

Eles apresentam suas demandas no espaço público, e cabe às instituições estabelecer o diálogo. Uma comissão pode até ser eleita para encontrar o presidente, mas não líderes.

Como explicar os protestos?

É um movimento contra a corrupção e a arrogância dos políticos, em defesa da dignidade e dos direitos humanos — aí incluído o transporte. Os movimentos recentes colocam a dignidade e a democracia como meta, mais do que o combate à pobreza. É um protesto democrático e moral, como a maioria dos outros recentes.

Por que o senhor disse que os protestos brasileiros são um “ponto de inflexão”?

É a primeira vez que os brasileiros se manifestam fora dos canais tradicionais, como partidos e sindicatos. As pessoas cobram soberania política. É um movimento contra o monopólio do poder por parte de partidos altamente burocratizados. É, ainda, uma manifestação contra o crescimento econômico que não cuida da qualidade de vida nas cidades. No caso, o tema foi o transporte. Eles são contra a ideia do crescimento pelo crescimento, o mantra do neodesenvolvimentismo da América Latina, seja de direita, seja de esquerda. Como o Brasil costuma criar tendências, estamos em um ponto de inflexão não só para ele e o continente. A ideologia do crescimento, como solução para os problemas sociais, foi desmistificada.

O que costuma mover esses protestos?

O ultraje, causado pela desatenção dos políticos e burocratas do governo pelos problemas e desejos de seus cidadãos, que os elegem e pagam seus salários. O principal é que milhares de cidadãos se sentem fortalecidos agora.

O senhor acha que eles podem ter sucesso sem uma pauta bem definida de pedidos?

Acho inacreditável. Além de passarem por uma série de problemas urbanos, ainda se exige que eles façam o trabalho de profissional que deveria ser dos burocratas preguiçosos responsáveis pela bagunça nos serviços. Os cidadãos só apontam os problemas. Resolvê-los é trabalho para os políticos e técnicos pagos por eles para fazê-lo.

Com organização horizontal, esse movimento pode durar?

Vai durar para sempre na internet e na mente da população. E continuará nas ruas até que exigências sejam satisfeitas, enquanto os políticos tentarem ignorar o movimento, na esperança que o povo se canse. Ele não vai se cansar. No máximo, vai mudar a forma de protestar.

Outra característica dos protestos eram bandeiras à esquerda e à direita do espectro político. Como isso é possível?

O espaço público reúne a sociedade em sua diversidade. A direita, a esquerda, os malucos, os sonhadores, os realistas, os ativistas, os piadistas, os revoltados — todo mundo. Anormal seriam legiões em ordem, organizadas por uma única bandeira e lideradas por burocratas partidários. É o caos criativo, não a ordem preestabelecida.

Há uma crise da democracia representativa?

Claro que há. A maior parte dos cidadãos do mundo não se sente representada por seu governo e parlamento. Partidos são universalmente desprezados pela maioria das pessoas. A culpa é dos políticos. Eles acreditam que seus cargos lhes pertencem, esquecendo que são pagos pelo povo. Boa parte, ainda que não a maioria, é corrupta, e as campanhas costumam ser financiadas ilegalmente no mundo inteiro. Democracia não é só votar de quatro em quatro anos nas bases de uma lei eleitoral trapaceira. As eleições viraram um mercado político, e o espaço público só é usado para debate nelas. O desejo de participação não é bem-vindo, e as redes sociais são vistas com desconfiança pelo establishment político.

O senhor vê algo em comum entre os protestos no Brasil e na Turquia?

Sim, a deterioração da qualidade de vida urbana sob o crescimento econômico irrestrito, que não dá atenção à vida dos cidadãos. Especuladores imobiliários e burocratas, normalmente corruptos, são os inimigos nos dois casos.

Protestos convocados pela internet nunca tinham reunido tantas pessoas no Brasil. Qual a diferença entre a convocação que funciona e a que não tem sucesso?

O meio não é a mensagem. Tudo depende do impacto que uma mensagem tem na consciência de muitas pessoas. As mídias sociais só permitem a distribuição viral de qualquer mensagem e o acompanhamento da ação coletiva.



Fonte: 
http://oglobo.globo.com

Salvador fará testes com ônibus elétricos da China em setembro, diz secretário

Ônibus elétricos serão testados em Salvador no mês de setembro. A informação foi confirmada nesta quinta (18) pelo secretário muncipal da cidade sustentável, Ivanilson Gomes, durante o IV Fórum da Ademi. Segundo ele, a medida visa oferecer um caráter sustentável do sistema de transporte da capital baiana.

ônibus elétrico Distrito Federal

“O modelo nos foi apresentado por empresas da China que possuem esse  tipo de veículo. Os dois ônibus chegam aqui em setembro e vamos testar em algumas linhas de Salvador”, explica.
Para o secretário, é possível que seja incluída na licitação de transporte público de Salvador, que deve ter o editar lançado ainda este ano, um incentivo para os empresários que incluírem na sua frota ônibus elétricos. “São ônibus que abrem dos dois lados, o que permitirá maior agilidade no fluxo de passageiros”, destaca.
Gomes argumenta que os ônibus elétricos custam mais caros do que os convencionais, que custam, em média, R$ 500 mil. “O valor a mais varia em uns 20% do preço do veículo convencional. A diferença é que esses veículos quase não poluem o ambiente, não fazem barulho e ainda têm ar condicionado”, explica.
Ângelo Consoli, membro da Sociedade Europeia da Terceira Revolução Industrial, que palestrou no fórum, indica que o uso sustentável do transporte público é um dos pilares do desenvolvimentos das cidades sustentáveis. “Não se pode adensar pessoas em uma área sem pensar na sua mobilidade pelo transporte público de qualidade”.

Jorge Gauthier

sábado, 6 de julho de 2013

ONU alerta que lixo espacial pode colocar as comunicações terrestres em risco


Ilustração indica quantidade de lixo espacial na órbita terrestre

Ilustração indica quantidade de lixo espacial na órbita terrestre

As conexões telefônicas internacionais, os sinais de televisão e alguns serviços de internet dependem necessariamente do uso de satélites, que, devido à enorme quantidade de lixo espacial que orbita ao redor da Terra, se encontraram ameaçados.


Especialistas das Nações Unidas (ONU) e da Nasa já fizeram diversos alertas sobre o crescente perigo em torno do lixo espacial, inclusive para a vida dos astronautas da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).

"O lixo espacial é um perigo para todos nossos sistemas de funcionamento por satélite", explicou à Agência Efe a diretora do Escritório das Nações Unidas para o Espaço Exterior, a astrofísica Mazlan Othman.

De acordo com Mazlan, "tudo que sobe ao espaço no final se transforma em lixo, o que gera um grande problema, ainda mais com as colisões de satélites que costumam deixar muito lixo no espaço".

Carcaça de foguetes, satélites abandonados e, inclusive, lixo procedente de mísseis orbitam ao redor da Terra em grande velocidade, a cerca de sete quilômetros por segundo, o que também ameaça o futuro da exploração espacial.

No total, há 500 mil resíduos espaciais de diversos tamanhos no espaço, embora somente 20 mil sejam considerados os mais perigosos, ou seja, com pelo menos dez centímetros.


"Se a humanidade deixasse de enviar artefatos ao espaço, o problema continuaria aumentando, já que as peças continuam se chocando e se multiplicando", lamentou Mazlan.


Uma só colisão entre dois satélites ou grandes pedaços de carcaças podem gerar milhares de pequenas peças, cada uma delas capaz de destruir outros artefatos espaciais.

Até o momento não existe nenhuma tecnologia capaz de limpar o espaço desta ameaça, enquanto a única coisa que pode ser feita neste aspecto é fazer com que os lançamentos espaciais sejam mais limpos.

"O que podemos fazer é encorajar todos os países a tomarem medidas para minimizar a emissão de lixo espacial, já que, às vezes, não é possível evitá-la, mas sim minimizá-la", disse a especialista.

Segundo a astrofísica, "a tecnologia citada ainda não foi desenvolvida e poderia ser muito cara. "Não sabemos ainda como vamos eliminar este lixo e nem onde poderíamos armazená-los caso eles descessem à Terra", completou.

Os satélites que fornecem os sistemas de localização global - como o americano GPS, o europeu Galileu e o russo Glonass - e os de previsões meteorológicas, entre outros, também correm o mesmo perigo.

Neste aspecto, os fragmentos menores são tão perigosos quanto os grandes, tendo em vista que os mesmos se deslocam com mais velocidade e porque são mais difíceis de serem localizados antes do impacto.

"Esse lixo é muito difícil de ser detectado e pode ser muito prejudicial, mesmo sendo fragmentos muito pequenos, porque se movimentam a uma velocidade de aproximadamente sete quilômetros por segundo", explicou à Efe Lindley Johnson, diretor do Programa de Objetos Próximos à Terra da Nasa.

Nos últimos anos, os astronautas da ISS tiveram que buscar várias vezes refúgio nas naves Soyuz, que são acopladas a ela, pelo perigo da proximidade de um fragmento de lixo espacial de grande porte.

O lixo espacial também representa um risco para o trabalho dos astronautas no exterior de suas naves, já que qualquer impacto de lixo espacial, inclusive de fragmentos pequenos, poderia afetar os seus trajes pressurizados, um fato que teria trágicos resultados.

Johnson acredita que, por enquanto, a única coisa que pode ser feita é "tratar que os lançamentos espaciais sejam mais limpos", com uma tecnologia capaz de reter os componentes físicos que costumam se desprender durante a subida das naves espaciais.

O especialista da Nasa assegura que existem vários projetos privados em andamento que buscam capturar esses resíduos.

"Primeiro é preciso eliminar as peças maiores, como os corpos de projéteis e os satélites que deixaram de funcionar", ressaltou Johnson, embora ainda não exista uma data fixa sobre quando esta tecnologia poderá ser utilizada de forma prática.

Em 2007, a China destruiu com um míssil seu satélite climatológico Fengyun 1C, o que gerou uma nuvem de milhares de fragmentos perigosos, sendo que um deles colidiu com um satélite russo no início deste ano.

Em maio, o nanossatélite Pegaso, o primeiro fabricado no Equador e que foi lançado em abril, se chocou com um fragmento de um foguete soviético de 1985 e, desde então, não teve seu sinal recuperado.

Fontes ligadas à ONU, que pediram para se manterem em anonimato, dizem que uma solução para este crescente problema deve ser alcançada com urgência, dado que potências emergentes, como China e Índia, têm ambiciosos projetos espaciais, um fato que poderia multiplicar a quantidade de lixo em órbita e suas consequências.

Segundo as previsões da Agência Espacial Europeia, o lixo espacial triplicará nos próximos 20 anos.


Fonte: http://noticias.uol.com.br