Enquanto o Rio de
Janeiro recebe algumas das mais poderosas figuras da política e da economia
globais em uma nova cúpula sobre sustentabilidade – a Rio+20 –, o Rio Xingu
será palco de um novo levante contra o atentado hidrelétrico à sua vida: o
Xingu+23.
Vinte
e três anos depois do histórico 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em
1989, pescadores, ribeirinhos, pequenos agricultores, indígenas, moradores
urbanos, movimentos sociais, acadêmicos, ativistas e demais defensores do Xingu
se reunirão para reafirmar a resistência ao barramento
do rio.
O evento acontecerá na
comunidade de Santo Antônio, entre os dias 13 e 17 de junho, no município de
Vitória do Xingu. Situada às margens da Transamazônica, a menos de 100 metros
dos canteiros de obras da hidrelétrica de Belo Monte (e a cerca de 50 km de Altamira),
a vila já foi parcialmente desapropriada pela Norte Energia num processo
marcado por ilegalidades, denunciado por movimentos sociais e objeto de ação
judicial da Defensoria Pública Estadual.
“O
Xingu+23 é uma ação política e também um encontro. E também é uma festa”,
explica a coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Antônia Melo. “Os
moradores que já foram retirados voltarão para participar das tradicionais
missa e festa de Santo Antônio, que este ano não seriam realizadas por causa
das expulsões. Assim, faremos uma retomada simbólica do território. Ao mesmo
tempo, nós atingidos, estaremos ali reunidos para denunciar, às portas da
Rio+20, as violações do governo brasileiro”, explica.
Uma
comissão de artistas liderada pelo ator Sérgio Marone, do Movimento Gota
d’Água, participará do evento.
De
acordo com os organizadores do evento, o encontro visa fortalecer os movimentos
de resistência a Belo Monte, e reafirmar que, diante das fragilidades técnicas,
econômicas, jurídicas e políticas do projeto, a hidrelétrica não é um fato
consumado.
O
slogan “Ocupe. Esse rio é nosso” faz alusão aos movimentos occupy/ocupa, que
protestaram internacionalmente contra a desigualdade econômica e social e tem
agitado o cenário político mundial desde o ano passado.
Estrutura
O
evento terá início com o que poderá ser a última missa celebrada na comunidade
de Santo Antônio, no dia 13 de junho, dia do santo padroeiro da vila. No dia
16, acontece o tradicional festejo de Santo Antônio. Neste período, impactados,
ameaçados e ativistas contra a usina participarão de uma série de atividades de
debate, organização e protestos.
A
expectativa é que participem cerca de 400 pessoas da região, entre atingidos
das cidades mais afetadas pela obra, como Altamira, Porto de Moz, Senador José
Porfírio (Souzel) e Vitória do Xingu, além de ameaçados pelas barragens do
Complexo Hidrelétrico do Tapajós, vindos dos municípios de Itaituba, Santarém e
Aveiros, e apoiadores de outras regiões. Os participantes trarão barracas e
redes para montar o acampamento do encontro, e utilizarão as áreas não
desapropriadas e estruturas não demolidas da comunidade, que tem acesso à
energia elétrica. A vila, no entanto, não conta com sinal de celular nem
internet. Não há acesso, também, a telefones comuns.
Além
da organização central em Altamira, o Xingu +23 conta com Comitês de
Mobilização em São Paulo, Belém e Porto Alegre, que deverão realizar atividades
preparatórias, de arredacadação de finanças e organizarão comissões que
participarão presencialmente do encontro. As informações estão disponíveis no
hotsite do evento.
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