Cansados
de conviver com relatos diários de violência urbana como assaltos e
roubos, os estudantes de Ciências da Computação da Universidade Federal
da Bahia (UFBA), Márcio Vicente e Filipe Norton, resolveram colocar em
prática o que aprendiam na faculdade e criaram o site colaborativo Onde
Fui Roubado. Desde que foi lançada, em junho de 2013, a plataforma já
recebeu mais de 17 mil denúncias de 399 cidades em todo o Brasil. São
Paulo é a recordista, seguida por Fortaleza, Belo Horizonte e Rio de
Janeiro.
"Queríamos mostrar nosso trabalho e, ao mesmo tempo, dar um retorno
positivo para a sociedade. Então, desenvolvemos um espaço onde é
possível compartilhar informações sobre assaltos com todos os cidadãos",
explicou Vicente. Eles também oferecem dicas de segurança como evitar
locais mal iluminados, não abrir bolsas e carteiras perto de estranhos
ou deixar documentos no carro.
Disponível em 60% das cidades brasileiras (aquelas que são alcançadas
pelo Google Maps), o site ajuda a mapear as ocorrências a partir das
denúncias anônimas das próprias vítimas. Na página, a pessoa informa
local, data, horário, objetos roubados e o próprio sexo. Além de fazer
um breve relato sobre a ocorrência, é possível selecionar sete tipos de
crime, desde furto até assalto à mão armada e sequestro relâmpago.
Hoje, o Onde Fui Roubado tem entre 20 mil e 30 mil visualizações por
dia, entre pessoas que denunciam a violência e que monitoram dados e
locais com maior incidência criminal.
Sem falar em investimentos financeiros, Vicente disse que "o esforço
foi relativamente alto para um retorno de conhecimento elevado". O
próximo passo é lançar um aplicativo para celulares com sistemas
operacionais iOS e Android.
Registros. São Paulo lidera o ranking com mais de 2.400 denúncias e
prejuízo de R$ 4,6 milhões em dez meses. Do total de ocorrências, apenas
58% das vítimas registraram boletins nas delegacias da cidade. O crime
de maior incidência é o assalto à mão armada, seguido de furto, a
maioria deles cometidos nos bairros Consolação e Vila Mariana.
Diferentemente de São Paulo, em Fortaleza a maioria dos crimes é
cometida durante o dia. Lá, apenas 47% das 1.900 denúncias do site
viraram boletins de ocorrência. Em Belo Horizonte, o prejuízo das
vítimas chegou a R$ 5,6 milhões. Das 1.790 denúncias, 59% viraram
boletins de ocorrência.
No Rio foram 1.400 registros na página, a maioria (960) sobre roubo
de celulares, mas apenas 46% das vítimas registraram boletins de
ocorrência. O centro é o bairro mais perigoso da cidade, seguido pela
Barra da Tijuca, na zona oeste. Os prejuízos ultrapassam R$ 2,2 milhões.
Vicente e Norton orientam as vítimas a procurarem a polícia para
registrar as ocorrências. No entanto, apenas 47% seguem o conselho.
"Alguns policiais e delegados de várias cidades entraram em contato
conosco informalmente e disseram que usam nossos dados também nas
estatísticas de criminalidade, porque muitas denúncias do site não
chegam na delegacia", disse Vicente. Eles também já foram procurados
pela Secretaria de Segurança de Belo Horizonte, mas as negociações não
avançaram.
Segurança. Para o sociólogo Bruno Cardoso, do Núcleo de Estudos da
Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/UFRJ)os aplicativos
refletem a cultura participativa e colaborativa atual. "Para a maioria
das pessoas, o boletim de ocorrência é só uma coisa burocrática. Os
aplicativos se baseiam na coletividade e criam um banco de dados
relativamente neutro e de fácil acesso, que pode ser usado para pensar a
segurança local."
Para acessar o www.ondefuiroubado.com.br, clique aqui.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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