sexta-feira, 16 de março de 2012

Morre o geógrafo Aziz Ab'Saber


O pesquisador Aziz Nacib Ab'Saber, um dos maiores especialistas brasileiros em geografia física e referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes das atividades humanas, morreu nesta sexta, aos 87 anos, de enfarte.

O geógrafo era professor emérito da USP, autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos - Mauro Bellesa/Divulgação
Mauro Bellesa/Divulgação
O geógrafo era professor emérito da USP, autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos
O velório será realizado a partir das 19 horas no Salão Nobre da FFLCH, que fica na Rua do Lago, 717, Cidade Universitária, São Paulo, no Prédio da Diretoria e Administração. O sepultamento será neste sábado, às 11h, no Cemitério da Paz (Rua Doutor Luís Migriano, 644, Morumbi, São Paulo.
Professor emérito da FFLCH-USP, ele é autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos e considerado referência da geografia em todo o mundo. É autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais do Brasil. Era presidente de honra e ex-presidente e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Ruth Andrade, secretária-geral da entidade, contou ao Estado que foi uma morte tranquila. "Ele acordou, fez café da manhã para toda a família, sentou-se em uma cadeira, falou "Ai" e morreu." Segundo ela, nos últimos meses o pesquisador estava visitando toda a semana a SBPC por conta da realização do terceiro volume da coleção "Leituras Indispensáveis", ainda a ser publicado.
Texto publicado no site da entidade conta que um dia antes de morrer, "o professor, disposto como sempre, fez sua última visita à SBPC, em São Paulo. Em um gesto de despedida, mesmo involuntariamente, ele entregou na tarde de ontem à secretaria da SBPC sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas." Ruth lembra que ele ainda pediu para que o material seja distribuído a estudantes nos eventos da SBPC. "Será agora a nossa missão", diz.
"Acredito que Aziz era um caso raro de casamento entre ser cientista e ser humanista. Ao mesmo tempo em que ele tinha um conhecimento incrível, não só de geografia, mas de várias áreas, ele tinha a perspicácia de fazer a relação desses assuntos com o cotidiano das pessoas", lembra.
Apesar da idade, Aziz continuava bastante ativo e polêmico. Em várias oportunidades se mostrou contrário ao alarmismo em torno do aquecimento global, reforçando seu aspecto natural. Recentemente também se manifestou sobre a mudança do Código Florestal no Brasil, criticando a ausência, no texto, de todo o zoneamento físico e ecológico do País, "como a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, conhecidas como os pampas gaúchos, e o Pantanal mato-grossense. Na ocasião, ele chegou a defender a criação do Código da Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais", lembra o texto da SBPC.
Repercussão
Nota de Luiz Inácio Lula da Silva e Marisa Letícia Lula da Silva:
"Aziz Ab'Saber foi, sem dúvida, um dos maiores geógrafos que o Brasil já teve. Seu profundo conhecimento da geografia e seu compromisso inabalável com o povo brasileiro foram fonte de inspiração para todos nós.
Convivemos intensamente no Instituto Cidadania, no Governo Paralelo e, sobretudo, nas Caravanas da Cidadania. Juntos, percorremos todos os cantos do Brasil, conhecendo a diversidade do nosso país e do nosso povo. A presença do professor Aziz, com sua inteligência e sabedoria, transformou essa experiência em algo extraordinário.
Sua presença sempre ativa, crítica e opinativa foi fundamental e ajudou a construir muitas das políticas públicas brasileiras. E foi assim que ele se manteve até seus últimos momentos.
Aziz deixará muita saudade, mas o conhecimento que ele transmitiu a todos nós continuará, com toda certeza, presente em nossas ações.
Nessa hora de tristeza prestamos nossa solidariedade a seus familiares."
Nota de Geraldo Alckmin
"O geógrafo Aziz Ab'Saber, professor emérito da Universidade de São Paulo, dedicou sua vida à pesquisa e ao conhecimento. Reconhecido mundialmente, Aziz Ab'Saber deixou uma obra importante em diversas áreas das ciências humanas, utilizando-a em prol da proteção do meio ambiente. É com grande pesar que transmito os sentimentos às comunidades acadêmica e científica e a todos os seus familiares, admiradores e amigos."
Nota do Ministro de Ciência e Tecnologia Marco Antonio Raupp
"Em razão da oportunidade de seus estudos, da acuidade de suas ideias, da extensão de sua obra e da longevidade de sua vida profissional, Aziz Ab'Saber já fazia parte da história intelectual brasileira há muitos anos. Agora ele entra para a eternidade, mas seu legado de centenas de trabalhos continuará a nos guiar pelos caminhos que conheceu como poucos, como os da geografia, da ecologia, da biologia evolutiva, da geologia e da arqueologia.
Aziz era dono de uma lucidez irrequieta e de uma formidável capacidade de lançar ideias muito à frente do senso comum, e também desafiadoras e provocantes até mesmo para o melhor pensamento estabelecido.
Bom exemplo dessa característica de Aziz Ab'Saber foi seu posicionamento nas recentes discussões do novo Código Florestal, não para repetir clichês ou acentuar antagonismos, mas sim para propor a criação de um Código da Biodiversidade - avanço que um dia o Brasil certamente consolidará.
O lamento pela morte de Aziz equivale ao privilégio de ter podido conviver e partilhar com ele momentos e situações importantes para a construção da vida científica brasileira."
Nota de João Paulo Capobianco, ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente.
"Era uma fonte absolutamente básica, primária e obrigatória para todo mundo envolvido com a questão ambiental no Brasil. Uma pessoa de enorme conhecimento. Foi uma liderança fundamental no desenvolvimento da pesquisa científica e da formação de um mentalidade conservacionista no Brasil. Não tem como estudar ecologia ou meio ambiente no Brasil sem consultar a obra dele. Foi uma figura de importância absolutamente inestimável. Fazia uma coisa rara entre os cientistas, que era atuar como um interlocutor eficiente entre a ciência e a política, mantendo sua credibilidade nas duas áreas. Ele tinha uma visão do Brasil que poucas pessoas tinham. Conhecia o Brasil como ninguém, andou pelo Brasil, escreveu sobre o Brasil....
Nota de Carlos Joly, pesquisador da Unicamp
"O impacto da publicação de seus primeiros trabalhos nas décadas de 60 e 70 foi enorme, Foi como um barril de pólvora. Todo mundo leu, todo mundo discutiu. Sua obra influenciou o pensamento críticos de duas gerações de cientistas, na geografia, na ecologia, na zoologia, na botânica." Sobre a teoria dos refúgios: "muito controversa ainda", "não há dúvida de que as florestas se retraíram durantes os períodos glaciais, mas quanto elas retraíram é algo que precisa ser muito estudado ainda" .... "Mas só o fato de ele ter colocado isso na mesa na década de 70 foi uma centelha que despertou o pensamento científico sobre esse tema desde então"
Nota de Miguel Trefaut Rodrigues, do departamento de Zoologia da USP
"Uma perda absolutamente irreparável para o nosso país. Era uma pessoa com visão macro do país, da nossa geografia, da ciência ... como poucas pessoas tinham. Deu uma contribuição que não será esquecida por gerações. Foi o primeiro geógrafo que entrou na história da formação das paisagens brasileiras ... E além de tudo era um sujeito de dignidade fora de série, sempre brigando pela justiça e pela coerência"
Giovana Girardi 


domingo, 11 de março de 2012

Mapa mostra feiras de orgânicos em 22 capitais


O cultivo de produtos agrícolas orgânicos não pára de crescer no Brasil, especialmente nas regiões Sul e Centro-Oeste. Para o consumidor, no entanto, faltam informações a respeito das vantagens dos orgânicos para a saúde e o meio ambiente, assim como sobre a localização das feiras especializadas, que costumam ser mais baratas do que os supermercados.



Feira de produtos orgânicos, em Recife. Uma ótima opção para passear, beliscar, pechinchar e ainda se alimentar de forma mais saudável, sem agrotóxicos. Foto: Jovem Rural

O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), em parceria com o Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC) e um grupo de organizações que apoiam a comercialização agroecológica, realizou um mapeamento das feiras de orgânicos em todo o país, dando destaque não só para sua localização como também os principais alimentos comercializados, o horário de funcionamento e a presença de mecanismos que comprovassem a origem orgânica dos produtos. De acordo com a pesquisa, foram localizadas 140 feiras em 22 das 27 capitais avaliadas.







Veja Feiras de orgânicos em um mapa grande




As cidades campeãs do ranking são Rio de Janeiro, que conta com 25 feiras orgânicas e agroecológicas, seguido por Brasília, com 20 feiras, Recife com 18 e Curitiba, com 16. Numa posição intermediária vem São Paulo, com 8 feiras; e, na leva seguinte, Campo Grande e Fortaleza, com 2; Belém, Aracaju, Manaus, Natal, Porto Velho, Rio Branco e Maceió só contam com uma. Das capitais pesquisadas só Boa Vista, Cuiabá, Macapá, Palmas e São Luís não tinham nem mesmo uma. 

A periodicidade das feiras mapeadas na pesquisa é variável. A maior parte delas (115) é realizada apenas uma vez por semana, durando de 4a 6 horas. A única que funciona diariamente é a Feira Orgânica do Jardim Bonfiglioli, em São Paulo.

Embora a maior parte dos produtos ofertados sejam frutas, legumes e hortaliças, as feiras têm procurado diversificar sua ofertas. Em algumas delas, é possível encontrar cereais orgânicos e até mesmo produtos processados como laticínios, mel, doces caseiros, sucos, pães, bolos, biscoitos, ervas, temperos, frango e carne bovina.

Quem compra em feiras evita intermediários e costuma obter bons preços – o que no caso dos orgânicos faz a maior diferença, já que seu custo costuma ser até 60% maior que o dos similares convencionais, uma vez que a produção demanda um cuidado maior com o solo, a água, a biodiversidade e até com a mão de obra. A variação de preço de feira para supermercado pode chegar a 463%. Além disso, essas feiras incentivam a produção local, apóiam a agricultura sustentável, minimizam os custos com energia e transporte dos alimentos e ajudam o orgânico a se popularizar.

As feiras especializadas estimulam o mercado e também aumentam a segurança de que o produto comprado é mesmo orgânico. Embora os produtos orgânicos vendidos nas feiras não possuam o selo SisOrg, para dar garantias ao consumidor, os agricultores familiares que vendem seus produtos devem estar vinculados a uma organização de controle social (OCS) cadastrada nos órgãos do Governo. A OCS pode ser uma associação, cooperativa ou consórcio de agricultores, que deve ser capaz de zelar pelo cumprimento dos regulamentos da produção orgânica. 


Nanda Melonio